Com a palavra, as estudantes
Os graduandos em Criminologia pelo UniCuritiba têm formação diferenciada para atuar em diversos campos na área da Criminologia e das Ciências Criminais. Normalmente, a atuação feminina se concentra na pesquisa acadêmica e na segurança pública.
A criminalista Juliana Absher é estudante do 5º período de Criminologia no UniCuritiba. O interesse pelo curso surgiu após a formação em Direito. “A Criminologia, por se tratar de uma ciência social aplicada, multidisciplinar, explicitamente voltada para o mundo do ser e com um viés propositivo foi o que me chamou atenção, pois com essas características ela é capaz de contribuir de forma efetiva para a questão criminal”, diz.
Inspirada nas professoras do UniCuritiba, entre elas as doutoras Michelle Cabrera, Mariel Muraro e Karla Pinhel, Juliana é direta: “O crescimento no número de mulheres em áreas até pouco tempo atrás consideradas masculinas demonstra a nossa capacidade de ocupar os espaços que quisermos”.
A estudante Catherine Ribas ingressou, em 2019, no curso de Direito do UniCuritiba e, depois de um semestre, viajou para um intercâmbio acadêmico de seis meses em Portugal. Foi lá, cursando a disciplina, que confirmou sua escolha: Criminologia. “Na volta, troquei de curso e hoje me orgulho de fazer parte de uma turma pioneira nesta área no Brasil.”
Sobre a participação feminina em áreas como a Criminologia, ela confirma que sua turma é composta por mulheres, em sua maioria. “Atualmente, as principais opções para quem cursa Criminologia são os concursos públicos na área de segurança e a docência, onde me vejo no futuro.”
Mais atenção às mulheres
Graduanda em Direito pelo UniCuritiba, Marcela Borges de Macedo decidiu cursar Criminologia em paralelo porque entende que há uma relação direta entre as áreas e vê possibilidades de as mulheres, compreendendo melhor as questões da criminalização, atuarem em defesa de outras.
“Ainda há muita ‘fragilidade’ e pouca estrutura e suporte às mulheres no sistema penal brasileiro, principalmente em se tratando da população feminina negra. Acredito que podemos fazer a diferença”, diz a jovem.
No futuro, a estudante se vê atuando na segurança pública e aplicando os conceitos do curso de Criminologia e do Direito como juíza ou delegada, contribuindo para a melhoria do sistema penal e dos temas voltados às mulheres.
Criminologia X criminalização
Assim como a presença das mulheres nas Ciências Criminais vem crescendo, a professora dos cursos de Direito e Criminologia do UniCuritiba, Michelle Cabrera, fala de outro dado que chama a atenção no Brasil: o envolvimento de mulheres no crime.
Desde a entrada em vigor da nova Lei de Drogas, em 2006, a criminalização de mulheres aumentou 300% no Brasil. “Isso não significa que as mulheres tenham se tornado mais criminosas, mas que passaram a ser mais perseguidas pelo sistema de justiça criminal, especialmente as mulheres negras e periféricas”, explica.
De acordo com indicadores do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça, o tráfico de drogas representa 62% dos crimes pelos quais as mulheres estão presas no Brasil. Em alguns Estados, os números são ainda maiores, especialmente na fronteira ou em regiões que estão na rota do tráfico, como Mato Grosso (82%) e Rio Grande do Sul (89%).
Perfil semelhante
No Brasil, o perfil das mulheres envolvidas em crimes se assemelha: 77% relataram histórico de abuso de drogas em algum momento da vida; 66% estavam desempregadas no momento da prisão; 60% possuíam baixo grau de escolaridade (57% tinham o ensino fundamental incompleto e 3% eram analfabetas); 51% eram solteiras, viúvas ou separadas e 91% possuíam filhos/as.
“Normalmente, casos públicos e emblemáticos envolvendo mulheres acabam por serem notáveis quando elas são vítimas e o grande problema é que, não raras vezes, as mulheres são revitimizadas, sendo tratadas como culpadas pelas agressões que sofreram. Já o problema envolvendo mulheres presas ainda é pouco discutido publicamente”, analisa a Michelle Cabrera.
Segundo a especialista, felizmente a crítica criminológica vem trazendo à tona essas questões. “As mulheres envolvidas no tráfico, em sua maioria, além de estarem situadas em camadas sociais tidas como marginalizadas, desconhecem a extensão de seus direitos, o que poderia, inclusive, ser relacionado ao baixo índice de escolaridade, e não dispõem dos recursos para arcar com o custo de um procedimento judicial.”
Para a estudante do UniCuritiba e advogada criminalista Juliana Absher, o estudo da criminologia representa um grande e necessário passo para mudanças efetivas no Brasil. “Ainda mais em nosso país, que notoriamente enfrenta dificuldades com altos índices de criminalização e aumento da população carcerária.”