J.A. Puppio*
A transição global para fontes de energia limpa tem se mostrado um desafio complexo para muitas nações, especialmente aquelas que ainda dependem fortemente de combustíveis fósseis para a geração de eletricidade. Enquanto alguns países batem na tecla da adoção de carros elétricos como uma solução mágica para reduzir as emissões de carbono, é essencial olhar para o quadro completo da matriz energética de cada nação. E é nesse contexto que o Brasil se destaca.
Com apenas 10% de sua energia proveniente de fontes fósseis, o Brasil ocupa a liderança mundial na geração de energia elétrica limpa. Essa posição de destaque se torna ainda mais evidente quando comparamos com outros países que, paradoxalmente, promovem o uso de carros elétricos, mas ainda dependem substancialmente de fontes poluentes para a produção de eletricidade.
Países como Coreia do Sul, Rússia e Índia utilizam mais de 80% de energia de combustíveis fósseis, uma realidade que não condiz com suas ambições de redução de emissões de carbono.
É interessante observar como alguns dos maiores poluidores do mundo continuam a promover discursos sobre sustentabilidade e energia verde, enquanto suas práticas internas permanecem amplamente dependentes de combustíveis fósseis. Por exemplo, a Coreia do Sul, com 91% de sua energia proveniente de fontes poluentes, e a Rússia, com 82%, continuam a apostar em tecnologias ultrapassadas que contribuem para o aquecimento global. A hipocrisia torna-se ainda mais evidente quando consideramos que países como o Japão e a Alemanha, que também possuem alta dependência de combustíveis fósseis, promovem políticas agressivas de veículos elétricos sem se preocuparem em limpar suas próprias matrizes energéticas.
Embora o Brasil também esteja avançando na produção de energia solar, atualmente responsável por 21% do consumo, ainda há muito a ser feito para explorar todo o potencial desse recurso abundante em nosso território. Países como Alemanha e Reino Unido, com climas muito menos favoráveis para a produção solar, conseguem produzir 39% e 34% de sua energia a partir do sol, respectivamente. Esse dado demonstra que, embora estejamos na liderança da energia limpa no geral, há espaço para aprimoramento e expansão no campo das renováveis.
A posição do Brasil como líder mundial na geração de energia limpa deve ser motivo de orgulho e, ao mesmo tempo, de reflexão. Enquanto o mundo busca por soluções para a crise climática, é importante que os países olhem para o Brasil como um exemplo de como é possível crescer economicamente sem comprometer o meio ambiente. Mais do que isso, precisamos continuar a investir em fontes renováveis, como a energia solar e eólica, e a promover políticas que incentivem a inovação e a sustentabilidade, de modo que possamos expandir ainda mais nossa capacidade de energia solar e eólica e reduzir ainda mais a dependência de combustíveis fósseis.
*J.A. Puppio é empresário e autor do livro ‘Impossível é o que não se tentou’